Após três meses de vigência, o período do Vazio Sanitário da soja acaba nesta quinta-feira (10), quando o plantio do grão estará liberado em todo o Estado. O Vazio Sanitário é uma medida de manejo agrícola prevista em legislação fitossanitária adotada pela Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná). O objetivo é conter o avanço da ferrugem da soja, doença que se não for controlada de forma adequada pode causar prejuízos econômicos de até 90% à cultura da soja no Estado.
Consiste na ausência de plantios de soja, de qualquer natureza, e de germinação voluntária de pés de soja ao longo de estradas, carreadores ou outras localidades, durante o período de entressafra da cultura. O propósito é prorrogar ao máximo o aparecimento da doença, que pode ser de maior ou menor infestação conforme as condições climáticas durante o ciclo produtivo da soja.
No Paraná, o período vai do dia 10 de junho a 10 de setembro. Nos demais estados, esse período se estende até o dia 15 de setembro. Iniciando o plantio mais cedo, o produtor pode plantar cultivares precoces em determinadas regiões, dependendo das condições climáticas.
Com a doença aparecendo mais tarde, ou talvez nem aparecendo, ganha o produtor rural porque reduz a aplicação de fungicidas, diminuindo também os custos de produção.
FISCALIZAÇÃO – O Vazio Sanitário foi adotado no Paraná em 2007 e a Adapar promove fiscalizações nas propriedades agrícolas para garantir o cumprimento da Portaria do decreto emitido pela instituição. Neste ano a fiscalização notificou e autuou produtores que não tomaram os cuidados necessários para garantir o plantio ou a ausência de plantas e a germinação de plantas voluntárias de soja. Foram emitidas 206 notificações e 204 atuações aos produtores inadimplentes.
No ano passado, a Adapar emitiu 193 notificações e 186 autuações em propriedades agrícolas e mais 45 autuações e 45 notificações para as concessionárias de estradas, pela presença de plantas de soja em estradas e ferrovias.
MANEJO E CONTROLE – A ferrugem asiática atinge todos os estados produtores da soja, e no Paraná a doença vem sendo manejada e controlada com medidas de prevenção, como o Vazio Sanitário aliado à aplicação de fungicidas, quando necessário. A proposta do manejo agrícola é reduzir ao máximo a aplicação desses produtos, explica o coordenador do programa de Prevenção e Controle de Pragas de Cultivos Agrícolas e Florestais na gerência de Sanidade Vegetal da Adapar, engenheiro agrônomo Marcílio Martins Araújo.
O técnico esclarece que há necessidade de aliar medidas de manejo culturais com a aplicação de fungicidas para que se obtenha níveis de controle para garantir uma produtividade adequada pelos agricultores paranaenses.
Araújo destaca que o Paraná vem obtendo sucessivos recordes de produtividade no plantio de soja também graças a essas medidas de manejo. Ele afirma que a adoção da prática do Vazio Sanitário para a cultura da soja é uma das ferramentas mais viáveis e adequadas, possibilitando produções e produtividades recordes para a cultura, que na última safra 2019/20 alcançou um volume de 20,66 milhões de toneladas e produtividade de 3,781 kg/ha, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento.
Na avaliação de Araújo, esse potencial de produção somente pode ser alcançado quando as condições climáticas são adequadas, o potencial produtivo das cultivares implementadas pelo produtor são grandes e as ferramentas de manejo da cultura são feitas nos momentos corretos. “Isso ocorre com planejamento agrícola, acompanhamento e monitoramento constante pelo produtor e seu responsável técnico, ou seja, é a profissionalização da produção agropecuária”.
Ele destaca ainda que o manejo da doença é feito através da adoção de diversas ações a serem implementadas pelos produtores e responsáveis técnicos, passando pela escolha das cultivares mais adaptadas para a região, de ciclo precoce com genes de resistência. Deve ser feito o monitoramento constante das lavouras, para verificar os focos iniciais de ocorrência da doença. E complementarmente, a utilização de tratamentos químicos preventivos ou protetores, no aparecimento dos primeiros sintomas da doença.
CONSCIENTIZAÇÃO – A Adapar, faz as fiscalizações que são necessárias mas também atua muito com a conscientização do produtor para que haja efetivamente a interrupção do ciclo e a ausência de plantas de soja no campo. A medida certamente atrasa o aparecimento dos primeiros focos de ferrugem asiática nas lavouras.
O agrônomo lembra os produtores que o fungo não respeita limites de propriedades ou de Estados. Por isso ele defendeu a conscientização como única forma de controle efetivo da doença e consequente redução nos custos de produção.