Se sou feliz? Osh, sou muito feliz! Um alagoano que inspira até na dificuldade. Sua história de superação e amor pela C.Vale virou poesia

Site/Assessoria C.Vale

Lawrence Rodrigo Rabello Graci tem uma veia poética latente. Sua principal fonte de inspiração são histórias de pessoas.  Com mais de 1.700 poemas escritos em guardanapos, cadernos e digitalizados, se orgulha em dizer que sua arte já sensibilizou e mudou a vida de muita gente.

 

Por sugestão do gerente do Abatedouro de Aves, Neivaldo Burin, o analista comercial do Decoa foi atrás da história do seu Josenildo da Silva dos Santos. A narrativa  foi construída depois de uma conversa ‘despretensiosa’, mas cheia de inspiração e ensinamentos de superação. (Ler poema Um certo Josenildo, abaixo).

Seu Josenildo já encanta pelo acolhedor sotaque. Natural de Maceió, Alagoas, teve a felicidade de contar sua trajetória que virou verso. Pai de três filhos, Jaqueline, Jardiel, Joedson, revela que já fez de tudo nessa vida. “Comecei a trabalhar com oito anos num canavial, fui gari, servente de pedreiro, poceiro, catador de latinha e hoje sou funcionário da C.Vale. Quer felicidade maior que essa?”, constata.

Exemplo contagiante

O morador de Francisco Alves, trabalha desde maio de 2017, no vestiário e lavanderia da indústria. Ele se orgulha em dizer que nunca faltou, teve atestado ou foi chamado sua atenção. Entre seus projetos está o de voltar a estudar e comprar uma casa.

O 12º filho de uma família de 14 irmãos,  fala com orgulho que já conseguiu trazer três parentes para trabalhar na cooperativa e que sonha em ter os filhos mais perto. “Desde que me conheço por gente essa é a melhor fase da minha vida. Se sou feliz? Osh, sou muito feliz! Saio daqui não. Vou me aposentar na C.Vale. Queria que minha gente sentisse essa felicidade. Aqui tem tanta opção. Se pudesse trazia todo mundo pra cá”,  enfatiza entusiasmado o alagoano.

 

Poesia

 

“Um certo Josenildo” 

 

Lá na minha terra eu não tinha nada, não,

mas eu não largava meu chão.

Fazia um conserto aqui, um reparo ali

mas por mais que eu me esforçasse,

todo dia, de esgotado, me cansasse,

a vida ia de mal a pior.

Mesmo assim eu me mantinha no meu chão

Até o dia que faltou pão…

“Pai, tô com fome” disse choramingando,

meu menino, num dia desses, ainda clareando.

Fui até a mercearia pedir de doação

um ou outro pedaço de pão,

dinheiro eu não tinha nenhum tostão

mas o dono disse que só vendia,

dar, ele não dava não.

Voltei de coração despedaçado,

de mão vazia, sem o pedaço de pão,

chorando, da vida levei uma peia.

Naquele dia meu filho comeu água com areia.

 

Ouvi dizer de uma empresa que pegava gente

em um estado que eu nem sabia aonde era,

a van cobrava dinheiro, dinheiro eu não tinha,

nem pra comer dinheiro eu tinha,

mas uma coisa eu sabia: Eu ia!

De um acerto paguei água e luz, já cortados

e com dinheiro da van, contado,

não sobrou nada pra comer.

Foi três dias de viagem

que eu só fiz foi água beber.

 

Cheguei num domingo, meia noite,

o vento frio cortando o rosto feito açoite,

dormi no banco do ponto de ônibus, na rua,

sem coberta, sem comida, só vendo a lua.

Na prefeitura me indicaram um vereador

que cedeu quartinho, mas não “de favor”,

eu tinha quinze dias pra arrumar emprego

ou teria mais outro perrengue, um despejo.

O vereador ainda arrumou comida

num mercado, no fim da rua, na subida,

mas anotou em caderninho as pontas:

“No teu primeiro salário, tu paga as contas”.

 

Fui contratado, e trabalho com gratidão,

quase cinco anos, nunca levei sermão,

nunca faltei, nunca cheguei atrasado,

trabalho correto, carteira, papel passado.

Comecei na lavanderia, nunca perdi horário,

de saudade chorei muito, escondido no vestiário

e, das vezes que eu quase desistia

minha chefe Mariza me dizia:

“Fica quieto, não aceito tua demissão”

E, por mais que a saudade aperta, dói o coração,

vou fazendo minha vida nesse outro chão,

todo mês mando dinheiro, mesmo um pouquinho,

tipo prestação, mas meus filhos

não passam mais fome, não.

Pra empresa já trouxe primo, meu irmão

que não acostumou ainda com o frio,

dei pra ele meu próprio colchão,

não me importo de dormir, eu, no chão.

 

Nunca mais passei fome nem sede

e o pouco que eu tenho

é muito perto do que eu tinha.

Ando de cabeça erguida,

tenho gratidão pela empresa

que me acolheu nesse chão,

vou crescendo por aqui,

logo trago meu filho pra profissão.

De domingo, sentado na porta de casa,

vendo o tempo passar, e daqui só vou embora

o dia que seu Neivaldo mandar.

Lawrence Graci, 22jun21