“O que podemos aprender com a história vocacional do Pe. Ângelo Virgílio Pellá”

Paulo Weber Junior/Revista Cristo Rei

Na vida de um vocacionado ao sacerdócio é importante a convivência com padres que possuem experiência no ministério, a fim de que possam servir de testemunho e inspiração de serviço, caridade, anúncio e zelo pastoral.

Um destes exemplos de vida é do Pe. Ângelo Virgílio Pellá, paulista de Macatuba, nascido em 19 de outubro de 1957 e filho de Bruno Pellá e Alaide Bazuco Pellá.

Veio com sua família para terras chateaubriandenses com 13 anos de idade, local em que iniciou seu despertar vocacional junto a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, grande celeiro de vocações.

A primeira manifestação de vontade em querer ser padre ocorreu, inclusive, antes de estar em Assis Chateaubriand, entre 6 e 8 anos de idade, durante as missões que ocorreram na Arquidiocese de Maringá, onde residia há época, no Norte do Paraná. Entretanto, o tempo passou e este desejo acabou sendo esquecido.

Quando chegou em Assis, a Paróquia Nossa Senhora do Carmo estava com um trabalho pastoral revolucionário, muito organizado para a época, especialmente no que tocava os círculos bíblicos, grupos de jovens e setorização.

Inspirado por tão belo trabalho pastoral, se tornou catequista aos 14 anos de idade e durante as formações conheceu alguns seminaristas que acabaram se tornando padres e novamente o desejo de criança tomou conta do então jovem Ângelo, fazendo com que, dois anos mais tarde, ingressasse no Seminário São José, de Cascavel, ainda pertencente à Diocese de Toledo, para estudar o antigo 1º Grau (atual ensino fundamental).

Em 1978 foi para Curitiba dar sequência nos estudos e em 1979 ingressa no Seminário Maria Mãe da Igreja, em Toledo, para concluir o Ensino Médio e iniciar a formação filosófica, sendo ele da primeira turma regular da Facitol (atual Unioeste). A formação teológica foi realizada no Studium Theologicum em Curitiba, período em que publicou seus primeiros livros, ainda como seminarista.

Foi ordenado presbítero para a Diocese de Toledo em 2 de setembro de 1989 com o lema de ordenação embasado no livro do profeta Jeremias: “Seduziste-me na feição do teu povo e eu não pude resistir” (Jr 20,7).

Em sua trajetória sacerdotal que completará 34 anos, passou por 16 paróquias, foi reitor do Seminário Maria Mãe da Igreja (1998-1999), foi professor de Filosofia na Unioeste e de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná (Famipar, hoje extinta), fez mestrado e doutorado em Teologia na Pontifícia Studiorum Universitas a San Thomas Aquino In Urbe, em Roma, e foi missionário ad gentes em Ariquemes (RO).

Durante esta experiência missionária que perdurou por dois anos, teve contato com uma igreja viva, independente, autônoma e criativa apesar das condições precárias para o atendimento pastoral. A sede do povo por Jesus Cristo era tão grande, que chegavam a participar de duas missas no mesmo dia em capelas diferentes e distantes, visto que só teriam outra missa três meses mais tarde.

Para ele, diante do que viveu em Ariquemes, e apesar dos perigos da malária (o qual foi acometido) e da violência, considera importante experiências missionárias além-fronteiras desde a formação, visto que há benefício para o missionário que vai e para quem o recebe, seja no crescimento humano, seja no vocacional, a partir de uma Igreja que é a mesma que a nossa, presente diante de uma realidade diferente, mas ainda assim, um povo de Deus que vive a sua fé de uma maneira única.

Durante seu pastoreio, além das paróquias, foi responsável pela implantação dos primeiros grupos de Infância e Adolescência Missionária em nossa Diocese, quando era assessor eclesiástico da Obra. Perante tão grande vivência, a sua motivação vocacional continua muito presente e viva apesar das dificuldades, e passaria tudo de novo nem que fosse para viver um só dia como ordenado.

“A vocação sacerdotal, o trabalho nas paróquias e as experiências pastorais e missionárias são marcantes, profundas e valiosas. Não há como não querer continuar no caminho sacerdotal. É uma vida que por si só é muito rica de tudo o que o ser humano precisa: espiritualidade, carinho e bondade do povo”, diz Pe. Ângelo.

Inspirado pelo despojamento, renúncia e humildade de São Francisco de Assis, padre Ângelo, hoje com 65 anos, é pároco da Paróquia Sagrada Família, distrito de Dez de Maio (Toledo), e vive uma vida simples, dedicada ao trabalho evangelizador à parcela do povo de Deus a que lhe foi confiado, e continua a motivar jovens a seguir o caminho sacerdotal, considerando essencial o apoio da família e a valorização dos formandos em suas paróquias de origem, envolvendo-os desde sempre na vida paroquial pastoral.

Suas palavras para os seminaristas que buscam discernir a vocação são as de que “é necessário um verdadeiro envolvimento com a formação e com a vida comunitária. Não é momento para se isolar, mas sim, aproveitar a convivência. A vocação se fortalece quando o convívio é realmente o que deveria ser: uma família”.

Com certeza uma história vocacional tão rica como a do padre Ângelo, serve de motivação para nós, seminaristas, e para mim, em particular, saber que, ainda que indiretamente, ele é responsável pela minha vocação, visto ela ter se fortalecido durante o período em que vivi diretamente o estilo de vida missionário da Infância e Adolescência Missionária, do qual ele foi o precursor em nossa Diocese, é motivo de agradecer a Deus pelo sim ao seu chamado.

Que assim como padre Ângelo foi seduzido pelo Cristo presente na feição do povo, possamos nós, também, fortalecer a nossa caminhada, buscando encontrar o Amor que é Deus em cada pessoa que cruzar o nosso caminho, de modo a não resistirmos as maravilhas advindas da vocação, que brota do coração amoroso de Jesus.

Minha história vocacional

Sou Vinicius Gomes Fazuline, tenho 24 anos, natural de Jesuítas (PR) e pertenço a comunidade da Paróquia Santo Inácio de Loyola. Sou seminarista diocesano do Seminário Maria Mãe da Igreja, e estou no terceiro ano da etapa do Discipulado (Filosofia).

De família católica, sempre fui conduzido pelos meus pais, Rozana Gomes de Oliviera Fazuline e Valdeci Fazuline, para a Igreja, estando presente nas atividades pastorais da Paróquia.

Quando criança fui coroinha e membro da Infância e Adolescência Missionária. Neste período, inclusive, é que houve meu despertar vocacional, pois servindo o altar e estando no campo de missão, me imaginava seguindo o caminho do sacerdócio.

Entretanto, por mais que eu sempre visse essa possibilidade, nunca tive a coragem de dizer sim. Até mesmo negava quando alguém me perguntava se eu iria para o seminário. Uma senhora vizinha, toda vez que me encontrava, me questionava se eu já estava “estudando para ser padre”, e eu, sempre dizendo que não.

Do princípio da negação, as coisas se abriram e eu queria, sim, ter um discernimento vocacional mais específico. Quando entrei no ensino médio, não tive a coragem de ir para o seminário menor. O mesmo aconteceu quando concluí a educação básica, me faltando, talvez maturidade, para dar minha resposta positiva.

Com isso, me mudei para Marechal Cândido Rondon (PR), onde iniciei a faculdade de Direito na Unioeste, a qual concluí no ano de 2021. Durante estes cinco anos da graduação, assumi a coordenação da Infância e Adolescência Missionária de nossa Diocese e busquei uma orientação espiritual e vocacional, sentindo, neste período, que eu precisava responder sim.

Em um encontro de adolescentes e jovens missionários, no Santuário Nossa Senhora da Salette (Palotina/PR), durante os momentos de espiritualidade, eu senti, de uma maneira única, a presença de Deus. Ao final do encontro, uma senhora, que não sabia o que se passava dentro do meu coração, me chamou e disse: “Vinicius, eu tenho certeza que você teve as respostas para as suas dúvidas”.

Naquele tempo a inquietação acerca do chamado vocacional estava muito grande, e durante o encontro eu tinha sentido que eu deveria discernir minha vocação. Assim, concluída a graduação, fiz os encontros vocacionais no Seminário Maria Mãe da Igreja, e no dia 2 de novembro de 2021 iniciei minha caminhada formativa.

Que Deus continue sendo meu auxílio e sustento para que eu possa responder sim todos os dias e discernir cada vez mais a minha vocação.

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Textos de Vinicius Gomes Fazuline / Seminarista da etapa do Discipulado / Seminário Maria Mãe da Igreja

Fotos: Paulo Weber Junior/Revista Cristo Rei

Originalmente publicado na Revista Cristo Rei