Estamos iniciando o Tempo do Advento. Esse tempo litúrgico que se caracteriza pela espera de Cristo. Uma espera alegre e de fé: a espera da festa do nascimento de Nosso Senhor. Momento de vivermos essa espera, reunindo-nos em comunidade, em nossos lares, com a família, preparando nossos corações para, felizes, receber o amor de Deus em nós, através do seu Filho Jesus.
Aproximando-nos do final de mais um ano e, paradoxalmente, iniciando um novo tempo na Igreja. Abre-se para nós o tempo do Natal, tempo de expectativa, onde somos convidados a renovar a esperança no Senhor que vem. Mais do que nunca este tempo tem muito a nos ensinar.
Pe. Sérgio Augusto Rodrigues, assessor diocesano para a Liturgia nos presenteia com um belo texto refletindo sobre o sentido deste Tempo. Acompanhemos.
Advento, início do ciclo litúrgico: “Vem, Senhor Jesus”
Advento e Natal, pela proximidade que tem, acabam se confundindo. Hoje, quando o Advento começa, já sentimos presente o clima de Natal, está próximo o nascimento de Jesus. Parece ser um tempo só: as luzes, as músicas, os presentes, os enfeites e mensagens, o fim do ano civil. Tudo junto e misturado. Queremos manifestar muitos e nobres sentimentos, por isso as incontáveis festas de confraternização promovidas neste período.
Qual o sentido cristão do Advento?
Para nós, cristãos, Advento é o tempo de 4 domingos, 4 semanas que antecedem o Natal. Pode ter seu início desde 27 de novembro até 3 de dezembro, por isso não tem uma extensão fixa, podendo variar cada ano de 22 (4 semanas incompletas) a 28 dias (4 semanas completas), sabendo, porém, que termina no dia 25 de dezembro.
A Igreja celebra o Tempo do Advento também para marcar o começo de um novo Ano Litúrgico. Na liturgia romana, é pelo Advento que começa o Missal, o Lecionário e a Liturgia das Horas.
Como se deu o início do Advento
No início, no século IV, consistia num período de três semanas, em preparação para a Epifania, com início no dia 17 de dezembro e término no dia 6 de janeiro. Como instituição litúrgica, o tempo do Advento só se consolidou nos finais do século VI e, naquela época, era um período de 6 semanas destinadas à preparação para o Natal. São Gregório Magno (590-604) o reduziu a quatro semanas, assim como permanece hoje.
Qual a importância que a liturgia dedica ao Advento?
Curiosamente, essa importância não tem origem no próprio Tempo em si, mas em dois acontecimentos que não fazem parte do Advento. Um deles já veio, enquanto o outro ainda está para chegar. O primeiro, aquele que já aconteceu, foi o Nascimento do Filho de Deus em Belém, o Natal do Senhor: “O Tempo do Advento… é tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus aos homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos” (Normas Universais do Ano Litúrgico, n. 39). A vinda definitiva de Jesus. Vivemos continuamente um Advento aguardando o Senhor que virá.
Escrevendo a Tito (2,11-13) São Paulo fala dos dois adventos ou vindas de Cristo. Pela primeira dá graças e pela segunda esperamos: A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus. É a segunda vinda.
Outro testemunho que temos registro é o de São Cirilo de Jerusalém que no século IV, explicava aos neófitos: “Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira, mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a segunda manifestará a coroa da realeza divina. Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem reusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos. Por isso, o símbolo da fé que professamos nos é agora transmitido, convidando-nos a crer naquele que subiu aos céus, onde está sentado à direita do pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim” (Liturgia das Horas, vol I, p. 113-114).
Para melhorar nossa compreensão: Advento é o tempo de preparação para duas vindas do Senhor, para dois Natais: o de Belém, que já aconteceu e aquele que ainda esperamos, o do fim dos tempos. Por isso sua característica própria: um tempo de piedosa e alegre expectativa. Celebrar o Advento é festejar a realização das promessas de Deus, o Senhor veio. Celebrar o Advento é festejar a presença de Cristo em nosso meio, o Senhor vem. Celebrar o Advento, tempo de espera, é festejar na esperança a vinda definitiva de Jesus, o Senhor virá.
Do que tratam as orações e as leituras deste tempo?
As orações e leituras do Tempo do Advento, tempo de conversão e de esperança, falam das duas vindas de Cristo e da preparação para elas. O ponto de separação é o dia 17 de dezembro, a partir de quando nosso olhar se volta para a primeira manifestação de Deus, na carne: “Predito por todos os profetas, esperado com amor de mãe pela Virgem Maria, Jesus foi anunciado e mostrado presente no mundo por São João Batista” (Prefácio do Advento II).
Quais as orientações para as celebrações do tempo do Advento?
Podemos destacar algumas orientações e pormenores celebrativos que são próprios do Advento: podemos enfeitar com flores o altar, mas com a moderação própria do tempo, para não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor; os paramentos são roxos, para se acentuar o caráter penitencial do Advento, exceto o terceiro domingo quando a cor litúrgica é o róseo; a Missa não tem o Glória. Devemos lembrar que este cântico tem as palavras que os Anjos cantaram para anunciar aos pastores o nascimento de Jesus. E nós queremos ter o cuidado de fazê-lo ressoar como novidade na Missa da Noite de Natal. A proclamação do Evangelho é precedida do canto do Aleluia, para nos recordar que o Advento é tempo de “piedosa e alegre expectativa” (NUALC, p. 39) e não de penitência quaresmal, e o Ofício de Leitura da Liturgia das Horas, em cada um dos domingos do Advento, conclui-se pelo hino Te Deum, o que não acontece na Quaresma. Sempre que os fiéis se derem conta destes detalhes e compreenderem o seu significado, vão poder experimentar mais intensamente o mistério da presença de Cristo na liturgia, e distinguir cada tempo litúrgico celebrado.
A coroa é um símbolo bem forte e presente no espaço das celebrações
A coroa do advento é o símbolo mais característico deste tempo. Também conhecida pelo nome de guirlanda, além da igreja também encontramos a guirlanda em nossas casas, nos comércios, dentre outros. Alguns critérios a observar: que seja circular, e assim nos lembra da continuidade de um eterno recomeço em nossas vidas; que sejam utilizados elementos verdadeiros como ramos verdes que expressam a vida, a esperança e quatro velas (a cor não importa) que serão acesas gradativamente (aos domingos) à medida que nos aproximamos da grande data, quando então a Luz se fará presente.
Vigilância, conversão, alegria, Emanoel “Deus conosco”, palavras mágicas do período do Advento que nos aproximam do projeto de vida plena e de salvação definitiva que Deus oferece aos homens, e que pela Encarnação de Jesus torna-se uma realidade concreta, mas ainda depende do “sim” dos homens e das mulheres que devem acolher e anunciar Jesus.
Quais personagens são marcantes neste tempo?
Mantendo o foco na liturgia vamos descobrir quatro personagens bíblicos que souberam dizer sim e nos ajudam a vivenciar melhor esse tempo. O primeiro deles é o profeta Isaías – o profeta do Messias – o mais lido neste tempo. Nos domingos do ano A ele nos convida a “subir ao monte do Senhor” (Is 2,3), iniciando esse tempo oportuno de súplica e vigilância; sua profecia nos anima e alegra: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus; é ele que vem para vos salvar” (Is 35,4). É ele também que anuncia o sinal definitivo da vinda do Messias: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14).
O segundo é João Batista – o mensageiro de Deus. Considerado o último profeta do Antigo Testamento é chamado de “o precursor”. Sua missão é preparar os caminhos do Senhor, oferecer a Israel o conhecimento da salvação, a remissão dos pecados, a obra da misericórdia divina e, sobretudo indicar Cristo presente no meio do povo.
Terceiro grande personagem: Maria, a mais fiel colaboradora de Deus no seu projeto de salvação. Ela ocupa espaço central nos Evangelhos do quarto domingo. Em verdade ela é a personagem modelo do Advento, pois, nos lembra da feliz expectativa, a alegre espera pela chegada do Salvador. Advento é o tempo mariano por excelência.
E, por fim, José – o homem justo por causa de sua fé; o homem do silêncio, porque vive o mistério da encarnação; a imagem do pobre pelo jeito como viveu sujeito à simplicidade e entrega obediente aos planos de Deus. Ele é modelo de fé para qualquer ser humano.
Quais compromissos podemos assumir para melhor viver este tempo
Como Isaías, João Batista, Maria e José somos também nós chamados a fazer parte da história, a deixar nossa marca: a agir com coragem, ser testemunha e mensageiro da paz, da fraternidade. Viver empenhados, comprometidos na construção de um mundo de vida e de amor, mundo de liberdade e de justiça. Mundo que se tornará realidade quando o homem aceitar converter o coração, acolher os valores de Deus, aprender a colocar em prática o que lê nas páginas do Evangelho sobre o nascimento de Cristo
– simplicidade, pobreza, uma gruta, uma manjedoura, um Menino que é sinal da grande esperança que nos motiva a perseverar na luta: O Senhor virá.
Pe. Sérgio Augusto Rodrigues /// Assessor eclesiástico da Pastoral Litúrgica ///Revista Cristo Rei